Alimentação como mecanismo de regulação do sistema endocanabinóide

A modulação da alimentação como uma estratégia  no combate à inflamação tem sua origem em um estudo pioneiro, desenvolvido pela neurobiologista italiana Rita Levi-Montalcino em uma descoberta sobre os mecanismos da Palmitoil Etanolamina (PEA); um derivado de ácido graxo que é naturalmente produzido no organismo humano em situações de estresse. (1)

A fim de testar essa premissa, em uma pesquisa com pacientes celíacos, constatou-se que os níveis de anandamida e PEA foram significativamente elevados quando a alimentação ofertada ao grupo era rica em glúten, estimulando assim uma reação inflamatória. Os níveis de anandamida voltaram ao normal após a remissão com uma dieta isenta de glúten. (2)

Assim, esse estudo levou pesquisadores à compreensão de que a PEA constitui um mecanismo de defesa endógena com ação antiinflamatória e antialérgica.  Partindo deste conhecimento, outro grupo de  pesquisadores testou o efeito da gema de ovo em uma dieta prescrita para 30 crianças com reumatismo.  Após o tratamento de 4 gemas diárias durante um longo período, nenhuma das crianças participantes do estudo teve reincidência ao reumatismo. Esse resultado nos traz ao entendimento de que uma dieta rica em PEA  (abundante na gema do ovo) ativa o sistema endocanabinóide, potencializando a sua ação anti-inflamatória. Por outro lado, estudos recentes apontam também que uma superativação crônica desse sistema pode levar ao desenvolvimento de obesidade, resistência à insulina e à leptina, síndrome metabólica e diabetes tipo 2. (3)

Estes achados nos remetem ao filósofo grego Hipócrates (460 aC- 370 a.C), que sabiamente dizia: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”

Quanto ao tipo de dieta, um estudo recente constatou que o alto consumo de alimentos vegetais e especiarias, típico da dieta mediterrânea, contém as quantidades apropriadas para garantir a mediação do sistema endocanabinóide no combate ao estresse metabólico, ajudando na prevenção de doenças inflamatórias e neurodegenerativas (4). 

Para saber mais, acesse  os artigos na integra. 

  1. J. M. Keppel Hesselink, Tineke de Boer, Renger F. Witkamp, “Palmitoylethanolamide: A Natural Body-Own Anti-Inflammatory Agent, Effective and Safe against Influenza and Common Cold”, International Journal of Inflammation, vol. 2013, Article ID 151028, 8 pages, 2013. https://doi.org/10.1155/2013/151028
  1. Simon V, Cota D. MECHANISMS IN ENDOCRINOLOGY: Endocannabinoids and metabolism: past, present and future. Eur J Endocrinol. 2017 Jun;176(6):R309-R324.https://doi.org/10.1530/eje-16-1044
  1. Coburn, A. (1960). The concept of egg yolk as a dietary inhibitor to rheumatic susceptibility. The Lancet, 275(7129), 867-870.https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0140673660907509

Armeli, Federica, Alessio Bonucci, Elisa Maggi, Alessandro Pinto e Rita Businaro. 2021. “Dieta mediterrânea e doenças neurodegenerativas: o papel negligenciado da nutrição na modulação do sistema endocanabinóide” Biomoléculas 11, no. 6: 790. https://doi.org/10.3390/biom11060790